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Ricardo Arroja aponta para o estado de “exaustão fiscal” e sugere investimento na inovação e propriedade intelectual
Ricardo Arroja foi o orador convidado pela consultora Expense Reduction Analysts e pela Associação Comercial do Porto, na conferência Futuro Agora: Oportunidades e desafios para os negócios numa economia em viragem tecnológica, realizada no passado dia 21 de setembro. Antes da exposição do professor e economista, Nuno Botelho deu as boas-vindas aos participantes e recordou o momento “particularmente exigente” que se vive nas empresas, fruto da “emergência de um quatro tecnológico disruptivo” e das “tensões globais”, geradoras de “uma enorme instabilidade em componentes fundamentais das cadeias de valor”. Num quadro de incerteza, acrescentou, “a única garantia é que, em Portugal, vamos continuar a pagar muitos impostos e a financiar a voracidade de um Estado que dá pouco em troca”.
Também Ricardo Arroja começou por partilhar o seu ceticismo relativamente ao contexto socioeconómico português, considerando que o país vive “na armadilha da classe média” – por ser, entre as sociedades com rendimentos elevados, aquela que “tem os menos elevados de todos” – e se encontra numa “travessia no deserto da indefinição”.
O convidado prosseguiu no diagnóstico, com enfoque na política orçamental, antevendo duas realidades no próximo Orçamento do Estado: “alguma rigidez” na consolidação das contas públicas e o peso acrescido da despesa corrente, em prejuízo do investimento público. “Talvez fosse avisado dar mais espaço ao investimento e menos à despesa corrente, mas isso significa dar o salto na prestação de serviços públicos em Portugal”, alertou, prevendo que se mantenha a estratégia atual, assente na aplicação dos fundos comunitários, com o PRR e o PT 2030.
A este propósito, Ricardo Arroja mostrou alguns gráficos que refutam a ideia, tantas vezes defendida em Portugal, de fazer equivaler a “mais despesa pública, mais crescimento económico. “Pelo contrário, foi entre 2014 e 2018 que, com menos despesa pública, registamos mais crescimento económico”, demonstrou, antes de considerar que os contribuintes portugueses se estão a aproximar da “exaustão fiscal”. “Estamos a convergir com os países que têm maior rácio de impostos no PIB, mas a divergir dos países concorrentes”, acrescentou o economista, dando como exemplos a Bulgária, a Roménia, a Hungria ou os países bálticos.
Ricardo Arroja prosseguiu numa análise muito crítica da realidade fiscal portuguesa, vendo o “copo meio cheio” nas empresas e no crescimento significativo das exportações que se tem registado nos últimos anos. Lembrando que é também o setor privado a rebocar – com cerca de 2/3 – a formação bruta de capital no país, o colunista e professor da Universidade do Minho apontou para a necessidade de as empresas investirem na intensidade tecnológica, de forma a subir no ranking de inovação europeu – em que o país ocupa apenas a 18ª posição no lote dos 27. Um dos instrumentos que sugere é a maior valorização da Propriedade Intelectual, com recurso a diversos mecanismos de financiamento europeu na área da inovação.
25 de setembro 2023