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PROJETOR 2030: Mais conhecimento, melhor adaptação e diversificação do mix energético. Contributos da conferência sobre ambiente e sustentabilidade.
A quinta conferência PROJETOR 2030 teve lugar no passado dia 22 de novembro, na Sala Dourada do Palácio da Bolsa, e foi dedicada às áreas do ambiente e sustentabilidade, discutindo as soluções para a transição climática e o impacto que estas produzem na vida das empresas. O debate foi moderado por Miguel Franco, Diretor da Associação Comercial do Porto.
TERESA PONCE DE LEÃO: “TEMOS DE ADOTAR POLÍTICAS SUPORTADAS NO CONHECIMENTO CIENTÍFICO”
Especialista em energias renováveis e Presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Teresa Ponce de Leão enalteceu o papel liderante que a Comissão Europeia tem mantido em matéria de sustentabilidade energética, designadamente com o projeto do Green Deal e a transição energética que lhe está subjacente. Para a convidada, a chave desta política está no “aproveitamento inteligente da tecnologia”, especialmente através da “grande quantidade de dados” que neste momento a Ciência consegue apurar.
Reconhecendo, tal como a Agência Internacional de Energia, que o mundo está “longe de atingir a meta dos 1,5 graus negociada em Paris”, a também professora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, sublinhou o largo investimento que tem sido feito ao nível das energias renováveis e reiterou a preocupação que a União Europeia tem manifestado em ver “políticas públicas suportadas no conhecimento científico” e uma “combinação dos investimentos” para se atingirem os objetivos.
Esse contributo, concluiu, tem sido um dos papéis desempenhados pelo LNEG, enquanto entidade parceira do Governo na definição do atlas para o hidrogénio em Portugal, que visa acelerar o processo de licenciamento desta fonte de energia no nosso país.
Veja a intervenção de Teresa Ponce de Leão
AURELIANO MALHEIRO: CLIMA TEM “IMPACTO PRODUTIVO FORTE” NO VINHO
Professor do Departamento de Agronomia da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, Aureliano Malheiro recordou a evolução que o clima tem conhecido nos últimos anos, assumindo que tem havido um “impacto devastador” ao nível das espécies vegetais e das culturas. Os fenómenos extremos são, como assinalou, cada vez mais extremos e o académico considerou mesmo que as previsões “não são animadoras”, assumindo que “os cenários mais pessimistas serão aqueles que vão estar mais perto da realidade” futura.
No setor vitivinícola, de que é também um especialista, Aureliano Malheiro partilhou as consequências da alteração que o padrão térmico produz na vinha, que se sintetizam na antecipação do ciclo de floração. “Isso tem um impacto produtivo forte”, apontou, considerando que o caminho do futuro irá passar, sobretudo, pelas estratégias de adaptação. Exemplos: a aplicação de protetor foliar – uma espécie de protetor solar feito de argila inerte –; o crescimento da agricultura de precisão e a redução do consumo de água, pesticidas e maquinaria. “Estas estratégias vão ao encontra da sustentabilidade que procuramos”, referiu.
Veja a intervenção de Aureliano Malheiro
Joaquim Sá: “Não faz sentido abandonarmos opções de energia”
Representante do grupo Dourogás, o engenheiro ambiental Joaquim Sá partilhou o histórico da empresa que, na sua origem, tem a instalação de redes de gás natural como atividade central. Nos últimos anos, como recordou o convidado, a organização tem-se alinhado com as preocupações de descarbonização e eficiência energética, criando uma empresa dedicada às renováveis e um centro de competências para aportar conhecimento à sua atividade.
Neste âmbito, a Dourogás Renovável está a desenvolver soluções híbridas para o mix energético, cruzando o gás natural, o biogás a partir do metano e o hidrogénio, antecipando que no futuro próximo possa ser injetada na rede de distribuição este tipo de solução. A empresa, de resto, está já a testar soluções de mobilidade com recurso a biometano em Mirandela e prepara a primeira injeção deste gás com origem renovável na rede comum de abastecimento.
“Estamos a assistir à passagem de uma lógica petroquímica para hidroquímica”, referiu o convidado, a propósito da produção de hidrogénio, assumindo que – à semelhança do que aconteceu na passagem do gás propano para o natural – terão de ser feitas adaptações às instalações para acolher a nova fonte de energia. No período de debate, o engenheiro ambiental defendeu que, no quadro do stress energético que vive a Europa neste momento, “não faz sentido abandonar qualquer opção”.