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Nadim Habib: “O futuro das empresas depende de talento”
No regresso das Conversas na Bolsa, Nadim Habib, economista, gestor e professor da Nova School of Business and Economics (SBE) foi o convidado da Associação Comercial do Porto, para uma reflexão sobre a “Produtividade em tempos de mudança”.
Habib iniciou a sua exposição por, no seu registo peculiar, explicar o círculo vicioso da falta de produtividade em Portugal, país onde, recordou, um cidadão ativo trabalha em média mais 300 horas anuais do que um alemão. “Porque trabalhamos muito e produzimos pouco?”, questionou o orador, respondendo que tipicamente se identifica a falta de organização e de planeamento como as causas do problema.
Concordando e discordando dos dois motivos, o palestrante considerou que se pensa em organização “na lógica dos anos 70 e 80”, com “muitos pontos de controlo”. “Muitas regras, muita rigidez e quando o mundo muda, há mais problemas para quem tem uma organização rígida”, descreveu. Por outro lado, ao nível do planeamento, caricaturou com as “surpresas” que todos os dias surgem nas empresas e que impactam na forma de trabalhar.
Para o professor da Nova SBE, a grande dificuldade dos gestores atuais é que são a primeira geração de líderes a ter de gerir três mercados concorrenciais: os acionistas, o talento e os clientes. Nesse sentido, Habib considera fundamental “construir uma organização capaz de se adaptar mais rapidamente às mudanças”, satisfazendo a previsibilidade que os três mercados exigem, em termos de resultados, salários e produtos.
O convidado recordou a aceleração “brutal” que a tecnologia impôs nas últimas décadas, assinalando que “hoje a mudança vem tão depressa que não há tempo para reuniões de conselhos de administração”. Nesse quadro, as organizações adaptativas terão de, por um lado, medir melhor a sua produtividade e conseguir, acrescentou, “extrair mais valor do seu cliente”, focando-se mais na melhoria da qualidade do seu produto ou serviço do que na redução de custos.
Após vários exemplos curiosos, onde procurou demonstrar a sua visão de produtividade e adaptabilidade, o orador aconselhou os novos gestores a “aceitarem” três mercados concorrenciais e não apenas no mercado de clientes. Recordou que uma empresa que não seja capaz de “construir talento, não vai crescer” e identificou que um dos problemas do país é que muitas das empresas são “alternativas de emprego”, mais do que verdadeiros projetos empresariais. Crítico da “falta de cultura estratégica” de muitas organizações, Habib reiterou a necessidade de formar pessoas e “aceitar” que o “futuro nas nossas empresas depende essencialmente de talento”. “Nós duplicamos os nossos resultados quando temos mais pessoas a tomar decisões”, acrescentou, reforçando a mudança de paradigma para os anos 90 do século XX; quando o que era necessário era “pouco talento em cima e muitos trabalhadores” na base. Citando Hemingway – “como é que foste à falência? De duas formas: primeiro gradualmente e depois de repente” – concluiu dizendo que a maior parte dos grandes empresários fizeram “as coisas certas gradualmente e, um dia, começaram a ter sucesso”.
8 de abril 2022