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Mais autonomia, foco nos resultados e cuidados multidisciplinares. Três receitas para a Saúde, na primeira conferência PROJETOR 2030
A Sala Dourada, no Palácio da Bolsa, acolheu a primeira das seis conferências PROJETOR 2030, dedicada ao sistema de saúde português e à centralidade do doente na sua organização. Três perspetivas distintas estiveram em debate: a do médico hospitalar, a de um economista e a de uma profissional de saúde extra-hospitalar.
Foi sobre esta última perspetiva que se centrou a primeira intervenção, com Ema Paulino, Presidente da Associação das Farmácias, a refletir sobre a oportunidade que constituem estes espaços de saúde como oferta complementar ou “ponto de partida para os cuidados primários de proximidade”. Recordando o ratio de uma farmácia por cada 3500 pessoas existente em Portugal – o que compara favoravelmente com a rede do SNS – a representante assinalou que muitos destes equipamentos são já constituídos por “equipas multidisciplinares” que podem, se assim forem aproveitados, ser uma “primeira linha de cuidados” para a população, especialmente no interior do país.
Veja a intervenção completa de Ema Paulino, na conferência PROJETOR 2030 – Saúde: “O cidadão está no centro do sistema?”
Em substituição de Fernando Araújo, novo Diretor Executivo do SNS, Nelson Pereira, diretor da UAG de Urgência e Medicina Intensiva do CHU São João recordou os “bons indicadores” de desempenho do serviço público, em aspetos como a esperança média de vida, a mortalidade infantil ou as taxas de sobrevivência ao cancro.
Onde o médico considera existir a maior ameaça, vincou, é na demografia e no envelhecimento populacional. Nelson Pereira assinalou o peso da doença crónica em Portugal e o facto de “85% dos das pessoas com mais de 65 anos dizerem que a sua saúde é má ou muito má”. Por outro lado, existe uma arquitetura do sistema público que o torna difícil de gerir, designadamente em matéria de referenciação: “se no São João tratasse apenas as 250 mil urgências da minha área de referência, era ótimo. O problema é que tenho de tratar 500 mil e metade delas não são da área do São João”, exemplificou.
Na lista de prioridades do médico e diretor da Urgência está, assim, a maior autonomia das instituições – “consagrada no novo estatuto do SNS”, notou –, a reorganização dos serviços de urgência, a aposta da hospitalização domiciliária e, claro, a prevenção. “A saúde só será sustentável se tivermos cidadãos mais saudáveis”.
Veja a intervenção completa de Nelson Pereira, na conferência PROJETOR 2030 – Saúde: “O cidadão está no centro do sistema?”
João Marques Gomes, professor da Nova Scholl of Business and Economics e da Nova Medical Schhol, fez a intervenção mais disruptiva, assumindo dois problemas estruturais do setor da saúde em Portugal: não se conhecerem os resultados e ter um modelo errado de financiamento.
Defensor dos cuidados baseados em valor, o economista considerou que o Estado deve deixar de pagar por “volume” e passar a pagar por resultados. Para tal, é necessário “medir tudo o que está associado à doença”, abandonando a ideia de que “fazer muito é fazer melhor”.
A aposta na prevenção da doença e promoção da saúde, assumiu, será a chave do sucesso. Mas um sucesso longínquo, de quem tem de passar a trabalhar para “não ter doentes”. No entanto, o economista lembrou que se gasta apenas 1% do orçamento total da saúde em prevenção e, como tal, não antevê resultados de curto prazo. Assim, defendeu, “é preciso fazer qualquer coisa até lá”, o que passa por “medir e melhorar custos, pagar com base no valor e não no número”.
Veja a intervenção completa de João Marques Gomes, na conferência PROJETOR 2030 – Saúde: “O cidadão está no centro do sistema?”
30 de setembro de 2022