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Jantar anual assinalou protocolo com diáspora económica e teve Carlos Tavares a criticar o “campeão do mundo da burocracia”










A Associação Comercial do Porto – Câmara de Comércio e Indústria (ACP) reuniu, no seu tradicional jantar anual de associados, cerca de duas centenas de participantes, que testemunharam a assinatura do protocolo de cooperação com a Rede de Câmaras de Comércio Portuguesas no Mundo (RCCPM) e a intervenção de Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis e convidado especial desta iniciativa.
No papel de anfitrião, Nuno Botelho valorizou a assinatura do acordo com a RCCPM enquanto meio para “estreitar as ligações com a diáspora e a sua ampla rede de empresas, investidores e potenciais consumidores”, assinalando que se trata de “uma grande vantagem competitiva para o nosso país”, com potencial para “gerar oportunidades nada negligenciáveis para a economia nacional”. O presidente da ACP-CCIP recordou, a esse nível, que a diáspora portuguesa representa mais de cinco milhões de pessoas e, no caso particular da região Norte, ligações estreitas com o Brasil e os EUA.
Esta ligação com as câmaras bilaterais de expressão portuguesa, de acordo com Nuno Botelho, inscreve-se também numa visão institucional que aposta “no trabalho em rede e na cooperação”. “Num país avesso a compromissos estáveis e duradouros, onde predominam os interesses particulares e de curto prazo, consideramos fundamental dar o exemplo contrário, mantendo-nos abertos ao diálogo com os nossos interlocutores, recetivos a articular respostas e soluções, disponíveis para construir projetos comuns, que respondam às necessidades estruturais do país e da região”, descreveu o anfitrião.
Carlos Vinhas Pereira, presidente da RCCPM, considerou a assinatura do protocolo como “uma etapa importante com vista a criar oportunidades para os nossos associados e empresários”, abrindo caminho a partilhas de conhecimento e ao reforço da presença empresarial portuguesa nos cinco continentes.
Carlos Tavares: “Portugal tem de deixar de ser o país do quase”
O ponto alto da noite ficou reservado para o fim, com a intervenção de Carlos Tavares, prestigiado gestor português e ex-líder da Stellantis, que regressou recentemente a Portugal após uma carreira de cinco décadas no estrangeiro. Num discurso sucinto e frontal, o convidado partilhou três “observações” sobre o ambiente empresarial português, apontando críticas diretas à burocracia excessiva, à estrutura desequilibrada do investimento estrangeiro e ao posicionamento geopolítico do país.
Na sua primeira observação, Carlos Tavares alertou para o peso da burocracia, que descreveu como “o inimigo silencioso da produtividade” e, numa expressão curiosa, afirmou que o nosso país está a “competir para o título pouco invejável de campeão do mundo da burocracia”. “A par de França, mas não só”, acrescentou.
Para o gestor, a excessiva carga burocrática “come recursos raros que não são utilizados para criar valor e riqueza”, além de promover “uma cultura de corrupção” e afastar os empreendedores.
Sobre o investimento estrangeiro, Carlos Tavares deixou um alerta sobre modelos de negócio que drenam valor para fora do país: “Muitas vezes, esses planos são estruturalmente negativos para a sucursal portuguesa, explorando o baixo custo do trabalho e deixando escassos benefícios para a economia local”. Essa lógica, frisou, compromete salários, reduz receitas fiscais e desincentiva os próprios investidores portugueses.
Num olhar mais geopolítico, o orador-convidado apelou a uma atuação portuguesa firme e respeitada no palco internacional. Criticando o populismo e os resquícios de visões neocoloniais nas relações Norte-Sul, defendeu que “Portugal deve falar de igual para igual com os países do Norte”, abandonando a atitude submissa e o estigma de ser o “país do quase”. Para o gestor, o clima de instabilidade atual pode ser uma “grande oportunidade” para Portugal afirmar a sua fiabilidade e construir um “Portugal 2050” com mais ambição e visão coletiva.
Veja o vídeo com os melhores momentos do evento.
6 de maio de 2025