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Paulo Portas em conferência: “Imprevisibilidade” e “respostas assimétricas” vão dominar cenário geopolítico
A Associação Comercial do Porto – Câmara de Comércio e Indústria acolheu ontem, dia 27 de junho, a conferência Tendências Geopolíticas Globais e Europeias e a Competitividade das Empresas Portuguesas, uma organização da consultora URIOS, que contou com a presença de Paulo Portas, ex-vice primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros.
Nuno Botelho, Presidente da Associação Comercial do Porto, deu as boas-vindas às muitas dezenas de participantes e, não deixando de referir a importância da geopolítica, colocou maior ênfase nas dificuldades com que as empresas nacionais estão a viver a conjuntura e em preocupações como “a carga fiscal, a escalada da inflação e a falta de mão de obra qualificada e não qualificada”. “Perante isto, há um Estado e uma União Europeia cada vez mais paralisados e incapazes de corresponder às necessidades das empresas”, acrescentou o anfitrião do evento.
Keynote speaker da sessão, Paulo Portas começou a sua reflexão por abordar a imprevisibilidade dos tempos que correm na política global e por aquilo a que designou de “profunda desadequação das instituições internacionais” às novas realidades. “Olhamos para os países que têm assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e estamos em 1945, não em 2022”, deu como exemplo.
Além da imprevisibilidade, o antigo governante referiu também a assimetria com que as diferentes regiões do mundo respondem a crises como a pandemia ou a guerra na Ucrânia. Seja pela via sanitária ou pela económica, Portas concluiu que os “países menos rígidos e mais flexíveis têm capacidade de recuperar mais rápido” dos períodos de dificuldade, assumindo que uma taxa de crescimento na China revista em baixa – 4,3% este ano – pode ser um sinal preocupante para a potência asiática.
Paulo Portas abordou, depois, a questão da inflação e os riscos que serão necessários correr para que os países ocidentais a possam controlar. Um desses riscos passa por responder à “pobreza energética” da Europa, que vai obrigar a cortar 50% ao gás fornecido pela Rússia até ao final deste ano. Problema, diz o ex-líder do CDS, é que “ninguém está disponível para fazer sacrifícios”. As escolhas difíceis vão ter de ser forçosamente feitas, com o exemplo dado por Portas do vice-chanceler alemão, Robert Habeck, que foi obrigado a assumir a manutenção das centrais a carvão e da energia nuclear no seu país.
Ainda sobre esta matéria, Paulo Portas sugeriu que as metas de neutralidade carbónica podem estar longe de ser alcançadas, não por “culpa da Europa”, mas sobretudo devido ao “u-turn feito pela China” nesta matéria, que não assume compromissos de encerramento das centrais de produção de energia com recurso ao carvão e, além disso, tem mais de 100 novos reatores nucleares previstos para os próximos anos.
Num olhar sobre Portugal, o ex-ministro considerou que a trajetória de “equilíbrio orçamental”, com a manutenção das metas do défice e um aumento salarial de apenas 0,9% na administração pública, “vai ser boa para o Ministério das Finanças, mas não para as famílias” e apontou para uma assinalável perda de compra da população no final do ano. “A inflação vai ficar entre 7 e 9% no final do ano”, previu.
À conferência de Paulo Portas, seguiu-se um debate, moderado pelo jornalista Pedro Santos Guerreiro, que, além da presença do convidado principal, contou com a participação do Presidente da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho, e do Presidente da URIOS, Didier Monteiro.
28 de Junho de 2022