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Francisco de Calheiros defendeu o turismo “na primeira pessoa” no último Conversas na Bolsa deste ano








Nas últimas Conversas na Bolsa de 2022, Francisco de Calheiros foi o convidado da Associação Comercial do Porto para uma conferência sobre o “passado, presente e futuro” do Turismo de Habitação, setor de que é um dos principais agentes nacionais e cuja entidade representante – a TURIHAB – preside desde a fundação, em 1983.
Apresentado por Nuno Botelho como um “amigo da casa”, e na presença de D. Duarte Pio e D. Isabel de Herédia, o convidado começou por fazer uma retrospetiva da “aventura do turismo de habitação”, que arrancou nos anos 80 do século passado, período em que “uma combinação de fatores interessante”, como o acesso a financiamento bancário para reabilitação do património, permitiu criar uma oferta hoteleira que, até então, não existia no país.
Sendo uma atividade baseada na reabilitação de antigas casas senhoriais e solares, Francisco de Calheiros caracterizou-a como um “turismo diferenciado e feito na primeira pessoa”, onde o proprietário deixa de ser um simples anfitrião. “É uma verdadeira experiência que proporcionamos ao cliente”, descreveu, assumindo que os ingleses que visitam este tipo de alojamentos consideram “os portugueses uns storytellers”, porque existe “a cultura e o saber estar necessários para isso”, num caldo que junta história, natureza e gastronomia.
Na perspetiva do convidado, este setor e a marca Solares de Portugal que o representa, têm “um capital humano e cívico muito grande” e ao qual “nem sempre o nosso turismo dá a devida importância”. Com uma oferta de aproximadamente mil camas em todo o país, o turismo de habitação é uma atividade, na perspetiva de Francisco de Calheiros, que tem uma “expressão importante no contexto global”, mesmo não sendo uma oferta de grande escala.
Sobre o futuro deste cluster, o convidado considerou que se trata de uma atividade central na preservação do património, especialmente na região Norte do país, onde “as explorações agrícolas não são viáveis”. “É através do turismo que podemos rentabilizar as propriedades”, reiterou, apontando para o desafio da autossustentabilidade que os responsáveis terão de enfrentar: “temos de lutar contra o desperdício, economizar recursos e aumentar o aproveitamento dos materiais. Isso é muito apreciado por quem nos visita”. A água, neste particular, será um dos recursos fundamentais a preservar para o futuro, acrescentou o Conde de Calheiros.
Outra questão cara ao orador é a “sucessão” neste tipo de projetos turísticos. Na perspetiva de Francisco de Calheiros, os proprietários devem encontrar as pessoas que reúnam “a competência e a sensibilidade necessárias para dar continuidade ao património”, uma vez que se tratam “de empresas essencialmente familiares”, independentemente da sua dimensão.
Na sequência da sessão de perguntas e respostas feita com a audiência, o convidado assinalou que a TURIHAB conta, neste momento, com 130 associados em todo o país e que a central de reservas detida pela associação fatura cerca de 1,5 milhões de euros por ano, valor que não inclui a faturação própria de cada um dos alojamentos. Francisco de Calheiros sublinhou que o impacto destes negócios ultrapassa o simples volume de negócios, referindo-se “à geração de emprego e ao desenvolvimento do território rural”. Finalmente, alertou para um problema de divisão administrativa que, na sua perspetiva, fragiliza a região Norte do país e, em particular o Minho: “a Galiza tem quatro províncias e o Norte de Portugal tem oito comunidades intermunicipais. Enquanto o Douro é uma comunidade única, só no Minho temos três comunidades intermunicipais”.
Ouça a entrevista de Francisco de Calheiros à Renascença
7 de novembro de 2022