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Entre otimismos e ceticismos, Nuno Botelho e Luís Marques Mendes debateram o futuro do país no Palácio da Bolsa
Nuno Botelho e Luís Marques Mendes protagonizaram um debate informal, no Palácio da Bolsa, sobre os desafios e as oportunidades que o país enfrenta nos próximos anos. Promovida pela agência de comunicação JLM_K e moderada por Jorge Afonso Morgado, a conversa entre o Presidente da Associação Comercial do Porto (ACP-CCIP) e o conselheiro de Estado arrancou com uma reflexão sobre a realidade económica e financeira portuguesa, que continua a lidar com o problema da dívida e os constrangimentos dele decorrentes.
A este nível, Nuno Botelho mostrou preocupação com o estado das contas públicas e com opções de natureza política, como o resgate de 3,2 mil milhões de euros aplicado à TAP. “Num país onde falta dinheiro na saúde, na educação, nos transportes públicos, não se percebe por que motivo se foi alocar tanto dinheiro numa companha aérea”, reforçou, lembrando com ironia que “um país pobre como a Noruega” não fez o mesmo à sua operadora de bandeira na crise pandémica e “nem por isso houve qualquer ameaça à soberania”. O presidente da ACP-CCIP mostrou-se, de resto, cético quanto à possibilidade de Portugal evitar situações semelhantes no futuro próximo, uma vez que “falta capacidade para resolver os problemas, para tomar decisões”. “Isso leva-nos também à questão de perceber que decisores políticos queremos ter”, acrescentou, lembrando o problema de reputação que sofre a classe política.
Mais otimista na análise ao contexto económico nacional, Luís Marques Mendes lembrou a “oportunidade histórica que temos até ao final da década”, fruto de um conjunto de circunstâncias favoráveis, como os fundos comunitários disponíveis, a distância geográfica face ao conflito na Ucrânia e a credibilidade internacional do país. “Não é para nos enchermos de orgulho, mas sim para termos confiança”, considerou.
Para aproveitarmos a oportunidade, o comentador e antigo líder do PSD colocou várias condições necessárias, com a estabilidade política à cabeça e um vaticínio de que “o Orçamento [para 2025] vai passar”. A esta premissa, juntou o reforço do investimento na digitalização, a fiscalidade “mais amiga das empresas” e a captação de talento. “Temos de nos concentrar no que é essencial, ter ambição e espírito positivo”, defendeu Marques Mendes.
Nuno Botelho mostrou concordância com “muitas das ideias” defendidas pelo seu interlocutor, mas não deixa de se manifestar pessimista quanto ao futuro e “à capacidade que temos em resolver os nossos problemas”. Um exemplo: a “burocracia endémica”. “Só quem nunca passou pelo calvário do investimento, de abrir uma fábrica, um hospital ou uma oficina de pneus, é que pode manter-se otimista com o estado em que estamos”, exemplificou. “Vivemos num país em que de facto temos grandes oportunidades, mas também vivemos num país que tem grandes dificuldades”, insistiu o Presidente da ACP-CCIP, lembrando, a título de exemplo a falta de estabilidade fiscal e as “mais e 1300 alterações que o código do IRC já conheceu”. Além disso, o dirigente da mais antiga associação empresarial portuguesa considerou que existe uma “cultura de desconfiança face a tudo o que é criação de riqueza” na nossa sociedade.
Ainda assim, Nuno Botelho não deixou de identificar o potencial de crescimento económico no país e na região Norte, de forma particular, apelando a uma aposta na criação de marcas globais” e em políticas públicas que favoreçam ganhos de escala nas empresas. “Mais do que dizermos que é neste ou naquele setor que devemos intervir, precisamos de condições fiscais e legais que promovam a fusão de empresas. Para deixarmos de ter apenas 1% de grandes empresas e passarmos a ter 3 ou 4%. São estas as que pagam melhor, que investem mais e que exportam mais”, considerou.
Luís Marques Mendes concluiu a sessão, mantendo a nota positiva no discurso e lamentando o facto de “não valorizarmos o que existe de bom em Portugal”. Validando o argumento, recordou as crises políticas em Espanha, França e Alemanha, para mostrar que Portugal sai bem na comparação. “Prefiro ver o copo meio cheio”, reforçou. Por fim, voltou ao médio prazo e à questão da estabilidade política no nosso país, reiterando a expectativa de que o próximo Orçamento do Estado passe, mas colocando uma ressalva: “o problema não é passar, é que saia desfigurado com tantas alterações”.
1 de julho 2024