

Navegação do Evento
Conversas na Bolsa: Bernardo Trindade quer mudar “preconceito” sobre o turismo, alargar estadia média e ver TAP servir regiões







No passado dia 16 de maio, a Associação Comercial do Porto recebeu Bernardo Trindade em mais uma edição das Conversas na Bolsa, o tradicional almoço-conferência que, desde 2016, dá voz à sociedade civil e junta a comunidade empresarial da região.
Presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) e administrador do Grupo PortoBay Hotels & Resorts, o convidado partilhou a sua visão sobre o crescimento do setor turístico no país e apontou alguns objetivos para o futuro, no intuito de “construir um caminho comum” com as pessoas que “ainda têm dúvidas” sobre esta atividade e que contribuem para a existência de “muito preconceito, maledicência e desinformação”.
Antes, no entanto, Bernardo Trindade partilhou uma nota pessoal com a audiência, recordando o seu tio-avô, Ruy Lacerda, antigo presidente da Associação Comercial do Porto, e “homem de cultura, melómano e germanófilo”. “Ele teve uma característica que eu transporto para sempre: a ideia de que, muito mais do que a idade, o que determina a nossa sobrevivência é sermos curiosos e aprender mais sobre aquilo que estamos a fazer”, descreveu.
Retomando os temas da hotelaria e turismo, Trindade recordou os 28 mil milhões de euros de receita gerados pelo setor em 2024 e os números que “crescem democraticamente” em todas as regiões do país. Esta trajetória, anotou, reflete-se na própria atividade da AHP, que duplicou o número de associados nos últimos 12 anos e vai abrir uma nova delegação no Porto com o objetivo de reforçar a presença institucional no Norte.
O crescimento do cluster, de acordo com o antigo secretário de Estado, não está isento de “externalidades negativas”, que se repercutem sobretudo na “pressão sobre a infraestrutura” das cidades. Isso obriga, na perspetiva do líder da AHP, um esforço de aproximação à comunidade local, nomeadamente no contexto da taxa turística, já aplicada em 60 dos 308 municípios do país. Para isso, Bernardo Trindade defendeu a criação de um selo identificativo das iniciativas financiadas por esta taxa, como forma de reforçar a transparência e a perceção pública sobre os benefícios concretos do turismo. Outra ideia que partilhou a este nível foi a “criação de um fundo de desenvolvimento turístico” para a região do Porto e Norte, através do qual as entidades públicas e privadas podem “decidir sobre a melhor aplicação” das taxas. “Temos em Lisboa e não vejo porque é que não pode acontecer aqui”, observou.
Num olhar sobre o capital humano e a escassez de mão de obra disponível, o convidado lembrou que a AHP subscreveu, através da Confederação do Turismo, o acordo conhecido como “Via Verde para a Imigração”, aceitando as premissas da formação, do apoio consular e dos seguros de proteção. No entanto, para o dirigente, não compete aos operadores suportar o encargo de oferecer habitação condigna a quem vem trabalhar para o país: “O que temos de fazer é aumentar o parque habitacional e temos de fazer um investimento sério desse ponto de vista”, defendeu.
Outro tema relevante na intervenção foi o desafio da procura turística, apontando o crescimento da estadia média como um fator estratégico para a competitividade do setor. “Se conseguirmos aumentar a estadia média de 2,51 para 3,51 dias, podemos passar de 80 para 114 milhões de dormidas anuais, sem necessidade de aumentar o número de hóspedes”, explicou. Neste contexto, Bernardo Trindade considerou essencial a descentralização do turismo e o papel que a TAP deve desempenhar a esse nível: “existindo um hub esgotado em Lisboa, temos de criar outros. E o hub do Porto é algo que deve merecer uma atenção especial”, assinalou o também antigo administrador não-executivo da companhia aérea, reconhecendo que a empresa “é um ativo tem de ser utilizado em prol do país e das suas regiões”.
A terminar, deixou uma nota de confiança pessoal no futuro da cidade do Porto e no seu potencial turístico: “O nosso compromisso é dizer presente. Investir e participar. É aqui, no Porto, que encontramos uma força de trabalho mais comprometida com o nosso propósito”.
Veja a reportagem da Renascença, media partner das Conversas na Bolsa