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Conferência da Lusófona trouxe reflexão sobre a “nova ordem mundial” ao Palácio da Bolsa






A Universidade Lusófona do Porto, através da Faculdade de Direito e Ciência Política, promoveu no dia 13 de março, no Palácio da Bolsa, a apresentação do sétimo número da revista científica 1820, dedicada à reflexão e ao ensaio académica sobre as ciências políticas. O evento contou com a presença do Almirante Henrique Gouveia e melo, como orador convidado, para uma reflexão sobre a situação geopolítica global.
Antes da intervenção do conferencista, Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto saudou a organização do evento e fez, na qualidade de “observador atento e interessado”, breves considerações sobre o tema desta iniciativa, considerando que o vivemos “num mundo em conflito”.
Citando três áreas de maior conflitualidade – as disputas militares, o comercio internacional e a informação – o anfitrião considerou que as mesmas estão a “infetar o ambiente social e político na Europa” e a “corroer as democracias liberais do Ocidente”, reconhecendo que “a confiança dos cidadãos nas instituições tradicionais é cada vez mais diminuta” e que tal se deve, em grande medida, a “culpa própria dos líderes e dirigentes”. “O populismo emerge como alternativa para o eleitor médio, cansado que está dos erros e das omissões dos velhos protagonistas; da ausência de sentido de Estado; da irresponsabilidade; da falta de diálogo e espírito de compromisso”, apontou Nuno Botelho.
Também António Tavares, professor de Ciência Política da Universidade Lusófona, testemunhou uma “ordem mundial ameaçada” por vários problemas estruturais, mas também pela administração Trump, na América, que mostra “um mundo de repente virado de pernas para o ar”.
Gouveia e Melo fez uma reflexão alargada sobre a ordem política estabelecida com a 2ª Guerra Mundial e considerou que as ameaças que a mesma tem sofrido suscitam “reações baseadas no wishful thinking”. “Temos alguém à nossa porta a ameaçar-nos com um cajado, mas continuamos à espera de que essa pessoa se afaste por iniciativa própria”, caracterizou o antigo Chefe do Estado-Maior da Armada, numa referência clara à relação entre a Europa e a Rússia. O Almirante disse mesmo a Europa se tem comportado “como uma espécie de [Neville] Chamberlain”, o primeiro-ministro britânico que quis seguir a via do diálogo com o nazismo.
Para o ex-militar, a equação do poder equivale à “multiplicação da capacidade e da vontade”. “Podemos ter muita capacidade, mas nenhuma vontade. E podemos ter o inverso, com o mesmo resultado”, aludiu, assumindo que Putin “deve estar muito satisfeito” por ver exemplos em que não se colocam nenhum dois critérios. Sobre a posição portuguesa, Gouveia e Melo teme que “uma viragem da Europa para dentro e para a continentalidade possa prejudicar o nosso papel”. No entanto, defendeu que um provável crescimento das relações do Atlântico, em especial com o crescimento do continente africano, pode beneficiar o nosso pais pela sua condição geográfica.
14 de março 2025