Navegação do Evento
A lenta agonia e a nova esperança sobre a ferrovia transmontana marcaram apresentação do livro de Jorge Nunes
A Associação Comercial do Porto acolheu, esta quarta-feira, 18 de outubro, a apresentação do livro Ferrovia em Trás-os-Montes – Memória do Passado, Luta do Presente, da autoria de António Jorge Nunes, antigo Presidente da Câmara Municipal de Bragança.
Perante uma obra que faz a cronologia do transporte ferroviário no Nordeste português, Nuno Botelho recordou a “epopeia” que representou a colocação das linhas de comboio na região Norte, dando como exemplo a Linha do Douro e sua conclusão em menos de uma década, já no final do século XIX. A referência histórica levou o Presidente da ACP-CCIP a lamentar que, nos dias de hoje, e com uma “abissal diferença de recursos”, seja “impensável executar uma obra públicas no nosso país, com um intervalo de tempo tão curto”. O “desastre” do programa Ferrovia 2020 e a “discussão interminável” sobre a alta velocidade, lembrou o anfitrião, são testemunhos dessa incapacidade
Para Nuno Botelho, a ferrovia em Portugal foi votada ao “absoluto esquecimento”, recorrendo aos números que a Greenpeace apresentou há poucos meses e que davam conta de que o nosso país, entre 1995 e 2018, perdeu 18% de caminho de ferro e ganhou 346% de rodovia. “Portugal tem, hoje, a mesma rede de comboio que tinha em 1893”, acrescentou o dirigente, considerando tratar-se de um facto “inusitado”.
O Presidente da ACP-CCIP considerou ainda que, neste quadro de desinvestimento, a região de Trás-os-Montes “foi a mais fustigada”, ao ver “retiradas todas as ligações ferroviárias de que dispunha”. No entanto, defendeu a necessidade de “não deixar fugir o futuro que está anunciado”, referindo-se ao Plano Ferroviário Nacional que prevê a criação de um novo corredor ferroviário no Nordeste, acompanhado pela reativação da linha do Corgo, que asseguraria a ligação a Chaves. Nuno Botelho defendeu que esta é uma “luta fundamental” do povo transmontano e que deve ser integrada “numa lógica de desenvolvimento regional, servindo as empresas e a economia”, expressando a disponibilidade da ACP-CCIP para “apoiar politicamente a causa”.
Linha de alta velocidade por Trás-os-Montes
A Ordem dos Engenheiros – Região Norte foi a entidade promotora desta apresentação e o seu Presidente, Bento Aires, também deixou uma forte crítica à política de desinvestimento que o país seguiu nas últimas décadas, em relação à ferrovia. O dirigente lembrou que o país tem uma das mais baixas densidades de rede da Europa – 246 km por milhão de habitantes; quando a média europeia é de 432 – e considerou a ferrovia como um recurso “fundamental para massificar o transporte público em Portugal”, num período de “transição”, a caminho da “sustentabilidade e da descarbonização”. No caso de Trás-os-Montes, Bento Aires defendeu que a região não pode ser tratada como “um número económico” e que “ter menos população não pode significar menos serviços”.
Fernando de Sousa, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e coordenador do CEPESE, foi o convidado para apresentar formalmente o livro, tendo recordado a biografia do autor, as suas intervenções públicas em defesa da região transmontana e considerando-o um “fazedor”. “Alguém dizia que só vivemos quando fazemos”, reforçou o orador, que recordou também a “lenta agonia” que o transporte ferroviário conheceu no Nordeste do país.
Já o autor do livro, António Jorge Nunes, fez um breve sumário histórico dos acontecimentos que estão presentes na obra e registou os 178 anos que distam da primeira discussão entre Portugal e Espanha para a ligação em comboio. Jorge Nunes recordou, ainda, o que considerou serem erros históricos neste processo, como a opção de ligar Barca D’Alva a Salamanca, quando os estudos técnicos eram todos favoráveis a uma conexão pela linha do Tua. E aproveitou para reforçar a defesa, feita no último capítulo da obra, de um novo projeto de caminho de ferro, que contemple a alta velocidade e a ligação, por bitola europeia, à rede espanhola.
19 de outubro 2023