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Nuno Botelho: “50 anos após a Revolução de Abril, a sociedade portuguesa sente que os decisores públicos não estiveram à altura”
A confiança dos cidadãos na classe política e a qualidade das instituições democráticas foram temas em destaque no jantar anual da Associação Comercial do Porto – Câmara de Comércio e Indústria (ACP-CCIP), realizado a 19 de julho e que teve Sérgio Sousa Pinto como convidado de honra.
Antes da intervenção do deputado do Partido Socialista e na sequência da reeleição como Presidente da ACP-CCIP, Nuno Botelho agradeceu a confiança dos colegas da Direção em prosseguirem “unidos” na missão de “representar e fazer progredir uma instituição única no associativismo empresarial português”.
O Presidente reeleito da ACP-CCIP deixou também um elogio ao convidado deste encontro, considerando Sérgio Sousa Pinto “um cultor da liberdade de expressão” e uma voz “genuinamente preocupada com a qualidade da Democracia em Portugal”. Um “mérito” que “não é pequeno”, realçou, atendendo ao contexto de “enfraquecimento das instituições democráticas e consequente perda de confiança dos cidadãos na sua eficácia”.
Nuno Botelho centrou a sua reflexão, precisamente, no descrédito das instituições e, de forma particular, naquelas que “estão na esfera de intervenção do Estado”, considerando ser esse o “sintoma mais visível” de um crescente distanciamento dos cidadãos em relação aos seus representantes e líderes. “Quase 50 anos volvidos sobre a Revolução de Abril, a sociedade portuguesa sente que os decisores públicos não estiveram à altura das responsabilidades”, considerou o anfitrião, dando como exemplo desta realidade os “níveis de participação política cada vez mais reduzidos”, assim como a “menor disponibilidade dos cidadãos para integrarem projetos político-partidários”.
Além da política, Nuno Botelho deu o exemplo da Justiça, como um setor em que se vai instalando a “desconfiança generalizada”. “Aquele que é um pilar fundamental do Estado de Direito, apresenta-se aos olhos do cidadão como uma estrutura anárquica e perversa, onde coabitam a falta de acesso e resposta; a absurda morosidade das decisões penais; o enredo processual ou as sucessivas fugas de informação e violações de segredo de justiça”, enunciou, antes de juntar o acesso à saúde e a qualidade do ensino como outros sistemas públicos cada vez mais afastados das pessoas.
Da “gestão das circunstâncias” à “fuga de responsabilidades”
O “estado a que chegou a nossa Democracia”, na perspetiva de Nuno Botelho, justificava uma “reflexão séria” de líderes políticos, que permitisse perceber “onde estamos a falhar, porque estamos a falhar e o que é necessário para corrigir”. No entanto, o líder da Câmara de Comércio e Indústria do Porto vê “o oposto” a acontecer, num tempo marcado pelo “vazio e a inconsequência dos discursos”, pela “gestão das circunstâncias” e “a fuga apressada às responsabilidades”. O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, que considerou um “patético manifesto de ocultação dos factos”, e a ausência dos titulares dos órgãos de soberania no memorial aos incêndios de Pedrógão Grande foram exemplos dados pelo anfitrião, que entende ser esta a conduta que favorece “o descrédito dos partidos tradicionais, a polarização ideológica e a transferência dos eleitores moderados para o voto de protesto”.
Finalmente, Nuno Botelho convocou as instituições da chamada sociedade civil a darem um contributo maior nesta luta pela credibilização junto dos portugueses. Na perspetiva do Presidente da ACP-CCIP, elas devem ser “mobilizadas para um exercício de cidadania mais consequente, através do qual se promova um escrutínio sério ao poder político, uma participação social mais alargada e desconcentrada, uma cultura de exigência e de reconhecimento pelo mérito na sociedade portuguesa”.
Veja, na íntegra, a intervenção de Nuno Botelho
20 de julho 2023