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SABIA QUE… MANUEL PINTO DE AZEVEDO FOI UM DOS INDUSTRIAIS MAIS MARCANTES DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX?
SABIA QUE… MANUEL PINTO DE AZEVEDO FOI UM DOS INDUSTRIAIS MAIS MARCANTES DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX?
Revisitamos algumas edições de O TRIPEIRO dos últimos anos, a centenária revista da Associação Comercial do Porto que é guardiã da história e do património da cidade desde 1908. Neste caso, espreitamos a edição de janeiro de 2011.
Pode adquirir as edições mensais da revista O TRIPEIRO nos serviços do Palácio da Bolsa através dos contactos disponíveis na página de Facebook da Associação Comercial do Porto.
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Empresários do Porto
Manuel Pinto de Azevedo
Industrial histórico do século XX
Manuel Pinto de Azevedo, nascido na freguesia do Bonfim em 1874, filho de António Pinto de Azevedo, natural de Baião, e de Emília Pereira de Azevedo, natural de Santo Ildefonso, no Porto, será um dos industriais mais marcantes da primeira metade do século XX na região Norte. Apoiante da causa dos democratas republicanos, este emblemático empresário portuense será um dos opositores ao regime instaurado após o golpe de 28 de Maio de 1926 que abriria caminho à ditadura do Estado Novo.
Manuel Pinto de Azevedo pertence a um grupo de personalidades da cidade constituído por comerciantes, industriais, banqueiros, médicos, advogados que participam activamente na vida pública da cidade durante a I República. Para lá das afinidades políticas, este grupo mantém entre si laços pessoais e comerciais, unindo-se na constituição de Sociedades, criando novos projectos empresariais ou envolvendo-se na assistência às populações carenciadas.
Eles constituem uma rede “político-empresarial” com influência na vida social, política e económica, encontrando, neste início do século XX, um contexto favorável para a ascensão e consolidação dos seus negócios.
Manuel Pinto de Azevedo, nascido na freguesia do Bonfim em 1874, filho de António Pinto de Azevedo, natural de Baião, e de Emília Pereira de Azevedo, natural de Santo Ildefonso, no Porto, será um dos industriais mais marcantes da primeira metade do século XX na região Norte.
Manuel Pinto de Azevedo congregará em torno de si dois outros empresários portuenses dignos de nota: Manuel Caetano de Oliveira e Manuel Alves Soares. Juntos serão os protagonistas de várias sociedades e projectos empresariais, entre os quais se destaca a Sociedade Manuel Pinto de Azevedo, S.AR.L. e a Azevedo Soares & Cª Limitada ou a União Industrial Algodoeira, Lda responsáveis pela exploração de várias unidades têxteis da região do Porto que, ao longo da década de 20, constituíram um verdadeiro império industrial que integrava: a fábrica de Fiação e Tecidos da Areosa, adquirida em 1920, a fábrica de Tecidos Aliança (Giesta-Rio Tinto), a fábrica de Fiação e Tecidos de Ermezinde e a fábrica de Fiação e Tecidos de Soure (1924). Irão, também, fundar o Interposto Comercial e Industrial do Norte, cuja sede ocupará as instalações da Camisaria Oliveira, de Manuel Caetano de Oliveira, na Praça da Liberdade, ao qual se associam os Irmãos Borges, financiadores de muitos projectos empresariais na indústria têxtil que emergem nas primeiras décadas do século XX. Manuel Caetano de Oliveira e Manuel Alves Soares serão sócios e correligionários políticos de Manuel Pinto de Azevedo.
Manuel Caetano de Oliveira é um brasileiro de “torna-viagem” que, em 1908, é proprietário da Camisaria Oliveira, sita na Praça da Liberdade (antigo Passeio das Cardosas). Membro conceituado da classe comercial portuense, de espírito empreendedor e democrático, republicano por convicção, irá participar activamente na vida política local, integrando a vereação eleita para o mandato que se inicia em 1914, ao lado do seu sócio Manuel Pinto de Azevedo e de outros republicanos como Eduardo Ferreira dos Santos Silva, Luís Ferreira Alves, entre outros. Foi um dos promotores das obras aprovadas durante este primeiro quartel do século XX na cidade do Porto, entre elas o novo edifício da Câmara Municipal.
Manuel Alves Soares, natural da Vila de Cucujães, ruma ao Porto, onde se emprega como marçano no armazém de mercearias do primo José Soares da Costa, na rua de S. João. Aqui inicia um percurso profissional que o levará a distinguir-se no seio da classe comercial e industrial portuense das primeiras décadas do século XX. Teria cerca de 25 anos de idade quando se lança nos negócios em nome próprio, transformando esta casa num dos maiores armazéns de produtos alimentares do Porto.
O seu talento para os negócios e as suas boas relações com membros da burguesia comercial e industrial, em particular com Manuel Pinto de Azevedo, transformam-no, ao longo da sua vida, num notável comerciante do Porto com armazéns de produtos alimentares e, mais tarde, num investidor em numerosos projectos empresariais.
Manuel Caetano de Oliveira e Manuel Alves Soares foram ambos alvo das perseguições dos partidários da Monarquia do Norte, entre Janeiro e Fevereiro de 1919. No Norte, este breve período é aproveitado para perseguir os apoiantes da República, presos no Eden-Teatro do Porto, onde eram interrogados e torturados. Republicano, Manuel Caetano de Oliveira foi preso no dia 25 de Janeiro de 1919, interrogado, e só mais tarde libertado. Manuel Alves Sores foi-lhe assaltada a casa, mas o empresário foi poupado às represálias exercidas sobre os republicanos, refugiando-se atempadamente com a família na sua casa de Rebordões.
Em 1923, Manuel Pinto de Azevedo, Manuel Caetano de Oliveira e Manuel Alves Soares, conjuntamente com outros sócios, adquirem a maioria da Sociedade detentora do jornal “O Primeiro de Janeiro”, que contava com a colaboração dos mais prestigiados intelectuais da época. Manuel Pinto de Azevedo mantém-se no Conselho de Administração até ao fim da sua vida, entregando a Direcção do jornal a partir de 1937 a seu filho, Manuel Pinto de Azevedo Júnior.
Manuel Alves Soares, será também membro do Conselho de Administração do jornal “O Primeiro de Janeiro”, tornando-se, mais tarde, um dos maiores accionista deste periódico. Quanto a Manuel Caetano de Oliveira, além de pertencer ao Conselho de Administração, assumirá a direcção interina do mesmo jornal entre 8 de Julho e 14 de Setembro de 1936.
Tal como Manuel Pinto de Azevedo, Manuel Alves Soares participará na actividade pública destaca-se pelo seu papel na Junta Patriótica do Norte, a primeira organização humanitária, de assistência às vítimas da guerra e de propaganda patriótica, nascida no Porto no decurso da I Guerra Mundial, em Março de 1916. Dirigida pelo Prof. Alberto de Aguiar, salienta-se a sua acção no apoio prestado aos órfãos dos combatentes de guerra, com a inauguração, a 25 de Maio de 1917, da Casa dos Filhos dos Soldados.
Unidos pelos negócios… e pela ideologia
Manuel Pinto de Azevedo e estes dois sócios irão juntos constituir um dos mais importantes grupos empresariais do Porto. Além da amizade e dos negócios que uniam estes três empresários, eles partilhavam, também, a mesma ideologia política, em defesa dos ideais liberais, assumindo-se como republicanos democratas, defendendo ainda uma política colonial assente no reforço das relações comerciais, no alargamento dos mercados e ao desenvolvimento de novas oportunidades de negócio.
É esta linha de pensamento que leva este grupo a procurar novos mercados para escoar os seus produtos, nomeadamente em Angola e Moçambique, criando para o efeito e respectivamente a “Algodoeira Colonial, Lda.” e a “União Industrial Algodoeira, Lda.”, responsáveis pela distribuição e venda dos produtos das suas fábricas. Em 1929, na sequência desta nova orientação comercial, Manuel Caetano de Oliveira empreende uma viagem de estudo a terras africanas, da qual resulta o livro “Algumas Notas sobre a Viagem às Nossas Possessões Ultramarinas. Relatorio apresentado aos socios da Fabrica da Areoza”.
Manuel Pinto de Azevedo será um dos opositores ao regime instaurado após o golpe de 28 de Maio de 1926. Apoiando a causa dos democratas republicanos, mantém contactos entre 1929 e 1931 com o grupo de exilados em Paris e Bruxelas, nomeadamente com António Lago Cerqueira, Albino Pinto da Fonseca, Costa Pinto e muitos outros (correspondência pessoal de Manuel Pinto de Azevedo). São eles que, a partir do exterior, conjugam esforços para derrubar, entre 1926 e 1931, o governo de António de Oliveira Salazar.
Defendendo uma intervenção social junto das populações, Manuel Pinto de Azevedo promoveu a construção de bairros e creches junto às suas fábricas e participou ao longo das décadas de 30 e 40 em vários projectos humanitários, sendo de destacar a sua passagem pela Misericórdia do Porto como Mesário, entre 1926 e 1938, e, mais tarde, entre 1941 e 1945. Foi, ainda, administrador do Hospital-Sanatório Rodrigues de Semide (Coordeiro, José Manuel Lopes – O Rasgo e a Vontade. Porto: Associação Empresarial de Portugal , 2004, p.88-89), sócio da Clínica Heliântia (Vila, Inês, Lima, Maria Teresa, Ferreira, Sandra – Fábrica de Tecelagem Manuel Pinto de Azevedo no contexto das Industriais Têxteis da Rua do Bonfim. Porto: Museu da Ciência e Indústria, edição policopiada, 2000, p.29). Foi, também, benemérito dos Bombeiros Voluntários de Leixões, do Lar do Comércio, do Hospital da Misericórdia de Mirandela e da Cruz Vermelha Portuguesa. Ao longo da sua vida, são muitos os relatos do apoio, por vezes financeiro, quer aos seus empregados quer mesmo a comerciantes da praça.
Manuel Alves Soares era seu sócio em várias empresas, que iam desde o têxtil aos seguros e à panificação. Empresário de grande rasgo, falecerá a 12 de Dezembro de 1941, com 61 anos de idade. Quanto a Manuel Caetano de Oliveira, passará os seus últimos dias na sua quinta em Souto do Chão, onde faleceu a 29 de Janeiro de 1966.
Manuel Pinto de Azevedo, figura de destaque no meio empresarial portuense, marcou a cidade industrial nesta primeira metade do século XX. O seu cortejo fúnebre estendeu-se ao longo da rua do Bonfim até ao cemitério da freguesia. Uma multidão de gente quis prestar-lhe a sua homenagem no dia 27 de Fevereiro de 1959. Morrera um dos mais empenhados e visionários industriais do Norte.
(texto de Maria da Luz Sampaio, Museu da Indústria do Porto)